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Prof. Tomaz Ponce Dentinho, Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores
As notícias que nos chegam são angustiantes. Por um lado o Tratado Europeu transfere para a competência comunitária a gestão exclusiva da biodiversidade marinha. Por outro lado o último acordo Luso Espanhol permite a invasão de atuneiros espanhóis nos mares dos Açores.
O processo de condescendência face ao Tratado Europeu é patético. Primeiro, nem os deputados nem o Governo notaram a armadilha que estava presente na primeira proposta de tratado. Segundo, embora alertados para o roubo do mar, ninguém se importou em corrigir o que era escandaloso depois da primeira proposta de Tratado ter sido derrotada. Finalmente, numa atitude que envergonha qualquer pessoa, vêm lamentar na Assembleia Legislativa Regional que o Tratado Europeu contenha artigos que, na prática, alienam o mar dos Açores para a sua delapidação por pescadores, cientistas e empresas europeias. A irresponsabilidade e a traição são coisas muito feias; mas pior ainda é lamentar e descartar responsabilidades.
O último acordo Luso Espanhol é outro escândalo. O acordo prevê que barcos portugueses vão pescar peixe espada preto aos mares das Canárias podendo os espanhóis vir pescar atum aos mares da Madeira e dos Açores. O peixe espada preto das Canárias será pescado pelos Madeirenses. O atum dos Açores será pescado pelos Canários. É de ver que quem ficou a perder neste negócio foram os pescadores e as fábricas de atum do Pico, de São Jorge e de São Miguel, mais toda a economia local e regional que delas dependes.
O problema é grave para o desenvolvimento açoriano mas é ainda mais grave para a sustentabilidade dos mares dos Açores. Bruxelas já provou que é péssima gestora dos recursos marinhos e, precavendo essa inevitabilidade de quem gere recursos longínquos, os territórios costeiros mais sábios, como a Noruega, a Islândia, a Gronelândia, as Ilhas Faroe e as Ilhas do Canal decidiram ficar de fora da Europa reforçando o peso dos seus países. Também os Açores deveriam sair da Europa para salvar Portugal.
in Voz dos Marítimos
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